Nós4

Sendo o natural-espontâneo uma boa premissa para o sucesso, a Nós4 surgiu justamente da despretensão e do entrosamento de quatro amigos músicos e de seus encontros, regados à audição de seus ídolos e à descoberta contínua de seu próprio som.

Tamanha era a simplicidade da idéia, que esta acabou refletida na escolha do nome do grupo, já que eram quatro seus integrantes: Juliana Fernandes (voz), Piero Bianchi (piano, violão), Chacon (voz) e João Melo (violão), começaram a desenvolver em 2004, o que viria a ser uma empreitada e tanto.

Não demorou muito, a parceria saiu do âmbito do puro divertimento e virou uma receita interessante de jovens talentos flertando com um repertório de peso: pouco depois, o grupo já lotava pubs e casas de show no Recife ao fazer releituras no mínimo particulares de grandes sucessos da música nacional e internacional.

Com a excelente aceitação do público pernambucano, em 2005 surgiu o primeiro registro do trabalho com o CD “In Natura”, trazendo a homônima primeira canção autoral do grupo. Nesse trajeto, a Nós4 foi conquistando credibilidade e firmando seu nome na região como sinônimo de qualidade e de “casa cheia”.

O crescimento musical dos artistas culminou na gravação de seu primeiro DVD “Ao vivo na praia de Maracaípe”, em Pernambuco. A esta altura, a banda já tinha nova formação: com a saída de João Melo que passara a se dedicar a projetos pessoais, Breno Durães tornara-se o quarto integrante, emprestando seu talento ao grupo como guitarrista e parceiro. Gradualmente um novo tempero fora acrescido à sonoridade da Nós4: a troca da predominância do acústico pela personalidade mais pungente da guitarra.

Com a divulgação do show através do DVD e a repercussão natural de sua atuação, a Nós4 virou referência não só em seu estado de origem, mas em todo o Nordeste, conquistando platéias cativas em Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte, incluindo incursões pelas capitais e cidades do interior de cada um destes estados.

Nesse pique, surgiram apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador, além de convites para a abertura de shows de artistas como Lulu Santos, Maria Rita, Paralamas do Sucesso, Ana Carolina, Titãs, dentre muitos outros.

A busca por uma identidade musical mais diversificada e concisa se deu de forma natural, explodindo em brasilidade no DVD lançado em 2007 e gravado também ao vivo, desta vez em Gravatá, intitulado “Somos Brasileiros”. Nele, além de interpretações maduras de clássicos da MPB como “Maria, Maria”, “O morro não tem vez” e “Deixe a Menina”, a Nós4 trouxe roupagem arrojada também para músicas consagradas na atualidade como “Samba a dois” e “Maracatu Atômico”. Com sua leva autoral das inéditas “Sem Verso" e “Nem Comento” e o novo passeio por “In Natura”, veio o prenúncio à outra fase do grupo, que obtendo ótima resposta junto ao público, lançou a versão do trabalho também em CD.

Em “No canto da sala”, DVD que já sai com tiragem de 25.000 cópias, a Nós4 mantém a proposta de difundir grandes “hits” da música brasileira para sua geração, mas desta vez com o registro do show que reuniu mais de seis mil pessoas em João Pessoa em Dezembro de 2008. Destaque para as interpretações dadas para “Gita”, eternizada na voz de Raul Seixas, “Pelas ruas que andei”, do conterrâneo Alceu Valença, além da indefectível “Pecado Capital” do mestre Paulinho da Viola: todas com a pegada firme do quarteto e de sua banda.

Não bastando o pique da apresentação ao vivo, há ainda um precioso adendo neste terceiro DVD: a nuance mais autoral da Nós4 em estúdio e em linguagem intimista, executando as próprias canções com a delicadeza de quem sabe o “peso” de cada verso e a profundidade de cada acorde. E é no encontro com as canções “Atéia”, “Som e Sol”, “Nem Comento” e “Sem Verso”, que surgem as melhores impressões e o crescente de seus arranjos, iluminados pelos metais e seu insubstituível ornamento sonoro. Em versões mais apuradas e definitivas, revela-se o movimento contínuo dos artistas rumo ao que agora se inscreve com ímpar naturalidade: o potencial dos integrantes da Nós4 também enquanto compositores e produtores do próprio som.

Sem esbarrar no determinismo ou no clichê de ser “cover”, a Nós4 prova que “over” mesmo é não permitir-se à livre forma da arte ao apropriar-se do legado musical do país para construir seu próprio quinhão dentro das premissas da verdadeira e boa música, feita com alma e qualidade.